A ByteDance, controladora do TikTok, está acelerando o desenvolvimento de seus próprios microprocessadores enquanto amplia sua estratégia de inteligência artificial (IA). A empresa busca se fortalecer no mercado de IA utilizando, em grande parte, chips da Huawei Technologies, de acordo com informações de fontes familiarizadas com o assunto divulgadas pela Reuters.
Essa movimentação ocorre em resposta às restrições impostas pelos Estados Unidos desde 2022, que limitaram as exportações de componentes eletrônicos avançados, como os chips de alta performance da Nvidia, amplamente usados em treinamentos de modelos de IA. Com o objetivo de reduzir sua dependência de fornecedores estrangeiros e se adaptar ao cenário geopolítico, a ByteDance está em uma corrida para desenvolver novas soluções de hardware e IA.
O próximo passo, conforme indicam fontes internas, é utilizar o chip Ascend 910B da Huawei para treinar um modelo de IA voltado para linguagens amplas, algo essencial no desenvolvimento de aplicações avançadas, como chatbots e assistentes virtuais. No entanto, o desenvolvimento completo desse modelo enfrenta desafios, como o ritmo lento de fornecimento dos chips da Huawei, com apenas 30 mil unidades entregues de um pedido superior a 100 mil até julho de 2024.
Apesar das dificuldades no abastecimento, a ByteDance já emprega os chips da Huawei em tarefas de inferência, que são menos intensivas em termos de poder computacional, ao invés de utilizá-los no treinamento de modelos completos. Tais modelos exigem uma quantidade massiva de dados e processamento, área em que os chips da Nvidia, como o H20 AI – adaptado especialmente para o mercado chinês devido às sanções dos EUA – ainda são predominantes.
Contudo, a ByteDance tem investido pesadamente em alternativas locais, buscando minimizar o impacto das restrições internacionais. A ByteDance já conta com seu principal modelo de IA de grande porte, o Doubao, lançado em agosto de 2023, que se tornou um dos chatbots mais populares na China, com mais de 10 milhões de usuários ativos mensais. O chatbot é utilizado em diversas aplicações, incluindo o Jimeng, uma ferramenta que converte texto em vídeo, e outros modelos focados em vídeo, que foram lançados recentemente para competir diretamente com as soluções da OpenAI, líder mundial nesse segmento.
Em termos de inovação tecnológica, a ByteDance está acompanhando as tendências globais com foco em IA generativa, multicanalidade e a criação de conteúdo audiovisual. No entanto, seu progresso contínuo está fortemente atrelado à capacidade de obter componentes de alto desempenho e superar os desafios geopolíticos que afetam o fornecimento de chips. O interesse crescente da empresa em IA também a posiciona como uma das principais compradoras de chips no mercado chinês, tanto dos modelos da Huawei quanto dos fabricados pela Nvidia, adaptados para contornar as sanções americanas.
Apesar das especulações, a ByteDance negou o desenvolvimento de um novo modelo de IA, conforme afirmou o porta-voz Michael Hughes. A Huawei, por sua vez, não se manifestou sobre o assunto. No entanto, é evidente que a competição por liderança no campo da IA está em pleno andamento, com empresas como ByteDance buscando se adaptar e inovar em um ambiente de rápidas transformações tecnológicas e regulatórias.
O uso de inteligência artificial tem sido alvo de intensas discussões globais, com especialistas alertando para os potenciais riscos, incluindo o perigo de “aniquilação global” se a tecnologia não for regulada adequadamente. Nesse contexto, gigantes da tecnologia, como a ByteDance, estão não apenas expandindo suas capacidades, mas também enfrentando uma crescente pressão para garantir que suas inovações sejam seguras e éticas.