Crianças neurodivergentes são aquelas que apresentam um desenvolvimento neurológico distinto do que é geralmente considerado típico. Isso abrange condições como Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), dislexia, entre outras. Essas diferenças no funcionamento do cérebro impactam diretamente a maneira como essas crianças processam informações, se comunicam e interagem com o mundo ao seu redor. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que cerca de 15% da população mundial viva com algum tipo de neurodivergência, o que destaca a importância de abordagens personalizadas para apoiar essas crianças.
Nos últimos anos, a tecnologia emergiu como uma ferramenta valiosa para facilitar o desenvolvimento de crianças neurodivergentes. Ferramentas digitais, como aplicativos educacionais, dispositivos de comunicação assistiva e softwares de organização, podem ser adaptadas para atender às necessidades específicas de cada criança, oferecendo suporte em várias áreas de seu desenvolvimento.
O uso da tecnologia pode ser um grande aliado no aprimoramento do raciocínio lógico das crianças. “A programação e os jogos educativos são fundamentais para ajudar as crianças a resolver problemas, organizando seu pensamento de maneira lógica e estruturada”, afirma Italo Pereira, coordenador pedagógico da SuperGeeks, que se dedica ao ensino de programação e robótica. Pesquisas indicam que a prática de jogos e atividades lúdicas pode aumentar o desempenho acadêmico em até 30% entre estudantes com dificuldades de aprendizado.
Conforme ressalta Italo Pereira, muitas crianças neurodivergentes podem enfrentar desafios na comunicação convencional. “Ferramentas tecnológicas, como aplicativos de comunicação alternativa, oferecem a essas crianças a capacidade de expressar seus sentimentos e ideias de maneira mais clara”, acrescenta. A comunicação aumentativa pode ser vital, uma vez que estudos mostram que crianças que utilizam essas ferramentas frequentemente apresentam melhorias significativas em suas habilidades comunicativas.
Outra vantagem da tecnologia é sua capacidade de promover a autonomia. “As crianças podem realizar atividades de forma independente, seguindo instruções em plataformas interativas, o que fortalece sua autoconfiança e independência”, destaca Pereira. Com a crescente utilização de tecnologias assistivas, observa-se um aumento de até 40% na capacidade de execução de tarefas diárias por crianças neurodivergentes.
A tecnologia também desempenha um papel crucial na estimulação sensorial, oferecendo experiências controladas que ajudam as crianças a processarem informações sensoriais de maneira eficaz. “Aplicativos, jogos interativos e dispositivos de realidade aumentada proporcionam estímulos visuais, auditivos e táteis em um ambiente seguro, permitindo que as crianças explorem seus sentidos”, explica Damião Silva, psicólogo especialista em neurodiversidade. Estudos mostram que o uso de tecnologia na estimulação sensorial pode melhorar a atenção e o foco em crianças autistas em até 25%.
Ferramentas tecnológicas, como softwares de desenho e programação, incentivam a criatividade das crianças. “A tecnologia cria um ambiente de experimentação sem julgamentos, onde elas podem testar, errar e criar livremente, fortalecendo tanto a autoconfiança quanto as habilidades criativas”, diz Damião Silva. A possibilidade de criar em um ambiente digital também tem se mostrado eficaz, com pesquisas indicando que crianças que utilizam ferramentas criativas digitais apresentam um aumento de 35% em sua capacidade de resolução de problemas.
A tecnologia também pode facilitar o desenvolvimento emocional. Jogos e aplicativos que abordam a inteligência emocional ajudam as crianças a reconhecerem e gerenciarem suas emoções. “Quando usada adequadamente, a tecnologia é uma grande aliada no desenvolvimento emocional de crianças neurodivergentes”, explica Camila da Silva Conceição, psicóloga clínica e escolar da Legacy School. Ferramentas que simulam interações sociais e desafios emocionais têm demonstrado promover habilidades como autorregulação e empatia, essenciais para uma melhor adaptação social.
Ambientes controlados e previsíveis, proporcionados por aplicativos e plataformas educativas, podem ajudar a reduzir a ansiedade, especialmente em crianças autistas, que frequentemente se beneficiam de rotinas estruturadas. “Aplicativos de meditação guiada, jogos focados em mindfulness e plataformas que ajudam na organização de rotinas diárias oferecem sensação de controle e previsibilidade”, afirma Camila Silva. Essas ferramentas ajudam a criar estratégias práticas de relaxamento e autorregulação, promovendo o bem-estar emocional das crianças.
A tecnologia também oferece uma plataforma acessível e adaptável, garantindo que crianças neurodivergentes tenham acesso à educação de qualidade de maneira inclusiva e personalizada. “Ao criar um ambiente de aprendizado que valoriza as particularidades de cada aluno, a tecnologia se torna uma ponte para que eles alcancem seu potencial máximo, tanto cognitivo quanto social”, afirma Marco Giroto, fundador e presidente da SuperGeeks.
Embora os benefícios da tecnologia sejam evidentes, é crucial estar atento às necessidades específicas de cada criança. “É importante que a tecnologia seja utilizada de forma adequada e controlada, especialmente considerando possíveis alterações neurológicas pré-existentes”, alerta Damião Silva. O uso excessivo pode ser contraproducente, portanto, é recomendável um controle rigoroso e supervisão por profissionais qualificados. A orientação adequada para os pais sobre o tempo de exposição às telas, de acordo com a faixa etária, é essencial para equilibrar os benefícios e riscos.
Cátia Lopes Brasil, psicopedagoga da Rede Daltro, enfatiza o papel crucial dos professores na identificação e apoio a crianças neurodivergentes, especialmente aquelas com TDAH. “Estruturar aulas, dividir tarefas em etapas menores e oferecer instruções claras e diretas pode facilitar a compreensão e a execução das atividades”, conclui.
A integração da tecnologia no desenvolvimento de crianças neurodivergentes não apenas oferece oportunidades de aprendizado, mas também contribui para a formação de uma sociedade mais inclusiva e consciente.